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Tal como grupos como Os Três Tenores e o Three Graces, os 2Cellos misturam crossover clássico com boa aparência e números primos em seu nome para criar um entusiasmo por música que enche salas com fãs jovens.

 

Mas além de tocar Vivaldi e Bach, os dois croatas - Luka Šulić, 28, e Stjepan Hauser, 29 - criaram versões vívidas só de violoncelo de canções que ficaram famosas por artistas tão inesperados quanto Michael Jackson e AC/DC.

 

Vídeos virais desse estilo (sua versão de "Smooth Criminal" foi vista mais de 17 milhões de vezes desde 2011, e seu "Thunderstruck" de 2014 foi visto por quase 54 milhões) levaram a dupla a uma turnê com Elton John, que disse: "eu não me lembro de ter visto nada tão emocionante como eles desde que eu vi Jimi Hendrix ao vivo nos anos 60".

 

Agora Šulić e Hauser estão em sua maior turnê nos EUA.

 

Conversamos recentemente com Šulić na estrada em Atlanta sobre o início da dupla, o que aprenderam com a turnê com Elton John e como o metal se traduz bem ao violoncelo.

 

Quantos músicos estão com vocês no palco?

 

A primeira metade do show somos apenas nós dois. Na segunda metade, adicionamos nosso baterista e torna-se um show de rock naquele ponto. É basicamente uma viagem que começa como anjos e termina como demônios. Começamos pacificamente com música clássica e de filmes, e até o final fica louco. Torna-se selvagem. Então, para o encerramento, nós também terminamos com música clássica. É um show muito variado.

 

A música clássica sempre fez parte do seu repertório?

 

Quando estávamos crescemos tivemos formação clássica. Comecei quando eu tinha 5 anos de idade... Mas em algum ponto quisemos fazer algo diferente, fazer nossos próprios arranjos e atrair os jovens para este grande instrumento. Quando você toca somente a música clássica, você está tocando notas que estão lá há algumas centenas de anos. Queríamos algo que fosse mais recente.

 

Quando vocês dois se conheceram?

 

Quando tínhamos cerca de 14 anos. Somos do mesmo país, e não há muitos violoncelistas lá. Então, nós nos encontramos em um acampamento musical de verão – jovens, crianças talentosas tocando violoncelo. Estávamos ensaiando como loucos. Mas nós éramos meio que rivais também, já que íamos às mesmas competições e aos mesmos acampamentos musicais... Mas sempre fomos grandes amigos se fizéssemos alguma coisa juntos. Nós não nos víamos por um longo tempo desde que ele foi estudar em Londres e eu fui para Viena. Mas então eu fui para Londres em 2010, e nós começamos a sair e fazer planos para o futuro. Tínhamos tido o suficiente daquela vida de estudante. Nós queríamos fazer uma revolução - não só uma revolução pessoal. Foi uma rebelião que nos levou a fazer este projeto. Tornou-se o nosso modo de vida.

 

O sucesso aconteceu muito rapidamente, não é?

 

A primeira música que fizemos juntos, "Smooth Criminal", explodiu imediatamente. Nós não esperávamos que fosse tão grande com uma música. Mas milhões de crianças o assistiram no YouTube, e então as pessoas começaram a nos chamar de todos os programas de TV - "Ellen DeGeneres" e "The Tonight Show". Então as gravadoras começaram a se interessar, e Elton John ouviu a música, convidou-nos para a turnê e nos tomou sob sua asa. Nós abrimos para ele em todos os lugares. O que foi uma experiência incrível. Em seguida, todo o trabalho duro começou.

 

Tivemos essa descoberta, então tivemos que pensar em qual direção queríamos ir, e começamos a trabalhar em gravações, arranjos e continuamos construindo através do nosso canal no YouTube e de concertos ao vivo... Nossos shows nesta turnê até agora têm estado praticamente esgotados.

 

Como vocês chegaram a "Smooth Criminal" do Michael Jackson como a canção que inicialmente definiria vocês dois?

 

Estávamos em Londres andando por aí, pensando em ideias, e éramos ambos grandes fãs de Michael Jackson, querendo saber o que deveríamos fazer. Então nós pensamos em "Smooth Criminal", porque soaria legal no violoncelo - aquele chk-ka-ka-ka-ka-ka no começo. Então voltamos para a Croácia e alugamos um estúdio barato por 100 dólares por um dia inteiro e terminamos a música. Fizemos o arranjo quando eu estava em Londres terminando os estudos, praticávamos juntos pelo Skype, fomos para um estúdio e fizemos a gravação de áudio. Então fizemos um vídeo por 1.000 dólares com um cinegrafista que nos deu um desconto - nós dividimos o custo, 500 dólares para cada um - e isso mudou a nossa vida, com esse baixo investimento.

 

O que veio a seguir?

 

"Welcome to the Jungle" foi o segundo vídeo, e foi um grande passo em direção a mais rock. Então lançamos o nosso primeiro álbum com a Sony Masterworks, que vendeu bem. Mas não continuamos a fazer tantos vídeos como deveríamos. Nós fomos para a estrada com Elton John e não tínhamos tempo para construir a nossa base de fãs no YouTube. Então, mais tarde, quando percebemos isso, filmamos "Thunderstruck", que foi um sucesso maior do que "Smooth Criminal" e nos levou a um degrau mais alto. Começamos a fazer o que queríamos, assumimos o comando da nossa própria carreira, voltamos às nossas raízes e começamos a fazer mais vídeos. Desde então tem sido ainda melhor, e nós tentamos gravar tantos concertos ao vivo quanto possível.

 

Você está vendo um monte de jovens em seu público como resultado?

 

Nossa base de fãs é bem diversa. Nós temos fãs de rock, fãs de música clássica e fãs de crossover... Vemos um monte de aspirantes a músicos na plateia. Recebemos cartas de fãs todos os dias, de crianças que aspiram a tocar. Na Croácia não há professores de violoncelo suficientes ou violoncelos em escola de música por causa do que fizemos.

 

O que o violoncelo tem que o torna tão propício para o rock?

 

O violoncelo é um instrumento tão versátil, praticamente qualquer coisa pode soar bem – exceto o rap. Nós ainda não aprendemos como fazer rap no violoncelo. Mas o rock e o metal são ótimos porque são poderosos. Mas um violoncelo pode ser bonito melodicamente, o que o torna perfeito para música de filme e música clássica. Devido ao seu alcance, no violoncelo você pode fazer tudo. Tem cores semelhantes à voz humana. Dois violoncelos te dão ainda mais possibilidades.

 

Além de hip-hop, que outros tipos de canções não funcionam no seu repertório?

 

Há tantas grandes canções por aí que são realmente baseadas em letras, é difícil tirar a mensagem. Também tem que ter uma certa melodia ou um riff que soaria bom ou poderoso. Mas se não tem uma boa melodia, e é baseado na letra, é difícil fazer algo especial no violoncelo. E quando fazemos algo, nós queremos fazer algo especial, algo novo, algo fresco. Nós não nos incomodamos em tocar qualquer música no violoncelo da forma como muitos músicos de crossover fazem, que fariam cover de tudo o que é popular agora, quer seja Taylor Swift ou mesmo “Hello” de Adele, apenas para obter visualizações no YouTube. Mas quando nós escolhemos as músicas, tentamos aquelas que são eternas.

 

Vocês já ouviram algo de qualquer dos artistas cujas canções que vocês usaram, como AC/DC?

 

Na verdade, um dia antes do nosso quinto aniversário, eles compartilharam o nosso vídeo de "Thunderstruck" na sua página oficial do Facebook. Nirvana, Guns N 'Roses e Iron Maiden, todas as suas páginas oficiais do Facebook compartilharam nossos vídeos. A página Jimi Hendrix compartilhou nosso vídeo de "Purple Haze" ao vivo.

 

Vocês já conheceram alguns desses artistas?

 

Quincy Jones [produtor de Michael Jackson] viu o vídeo de "Smooth Criminal". Nós o encontramos em Las Vegas e ele foi muito agradável e nos deu muito apoio. Tocamos com o Red Hot Chili Peppers depois que abrimos para eles na Croácia.

 

Como foi a turnê com Elton John?

 

Fazíamos um set de 20 minutos antes de cada show por dois anos, em seguida nos juntávamos a ele por metade de seu set com sua banda, quando ele precisava de cordas. Foi uma experiência incrível. Tocamos em grandes locais. Realmente aprendemos com o melhor como se apresentar. Tivemos essa experiência de tocar para grandes multidões, então foi muito mais fácil para nós fazê-lo quando chegou a nossa vez. Foi realmente valioso.

 

A comunidade clássica despreza vocês por tocar música pop?

 

Na verdade não. Qualquer pessoa clássica que pode tocar um instrumento pode ver qual nível estamos. Temos muita boa história como músicos clássicos e individualmente ganhamos um monte de competições. Há pessoas que preferem só a música clássica, eles não gostam de rock ou metal, e tudo bem. Mas eles não podem dizer nada de ruim sobre o nosso modo de tocar ou de arranjar uma canção.

 

Você sente que vocês estão introduzindo os fãs jovens de pop à música clássica?

 

De muitos dos nossos fãs recebemos comentários como "eu nunca pensei que a música clássica pudesse ser bonita", e eles começam a apreciar a música clássica tanto quanto eles apreciam a música popular. E nós incluímos músicas clássicas nos concertos. Nós terminamos o show inteiro com Bach, que é uma ótima maneira de introduzir a música clássica a um público.

 

Aqui e ali nós fazemos shows apenas com música clássica, ou somente música de filme, o que nós compartilhamos no YouTube, por isso não estamos apenas tocando para algumas centenas de pessoas na plateia, mas compartilhando através da internet. Além disso, a escolha das peças tem que ser atrativa, se você quiser chegar a muitas pessoas. O problema com a música clássica, como em cada gênero: tem música boa e música ruim, e você não pode chegar a um grande público com uma música que não é interessante e especial. Você também tem que apresentá-la de uma maneira especial, educá-los sobre o que é especial na música e compartilhá-la nas redes sociais. Trata-se de abrir para o mundo e compartilhar a beleza da música. É assim que olhamos para a coisa agora.

 

 

 

Tradução: 2CellosBrasil

 

Original article by Roger Catlin - The Washington Post (in English):

https://goo.gl/cYNM77

 

 

Eles são apenas uma típica dupla de violoncelo de covers de Michael Jackson, Hendrix e AC/DC

Por Roger Catlin

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